Em
novo livro, diretor do HCOR e ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, diz
que tecnologia impôs grandes mudanças à medicina em 40 anos. Frente a
custos maiores e novo perfil epidemiológico do país, Sistema Único de
Saúde precisa dobrar recursos. 'Esse é o grande problema', diz Jatene
em entrevista exclusiva. 'Mídia faz população acreditar que carga
tributária é insuportável.'
André Barrocal
BRASÍLIA
– O diretor geral do Instituto do Coração (HCOR) e ex-ministro da
Saúde, Adib Jatene, lançou nos últimos dias, em dobradinha com o atual
ministro, Alexandre Padilha, o livro “40 anos de medicina. O que
mudou”. São 200 páginas abrangendo a experiência de metade de uma vida
que Jatene, aos 82 anos, sintetiza apontando a tecnologia como
principal elemento transformador.
O
avanço tecnológico levou à descoberta de novos tratamentos, permitiu
diagnósticos melhores, praticamente erradicou doenças. Mas também afetou
a relação entre paciente e médico, que se tornou mais impessoal. E
encareceu custos na medicina, exigindo cada vez mais investimentos de um
Estado que assumiu o compromisso constitucional de dar saúde gratuita
para toda a população.
O problema dos custos é de difícil
solução, na opinião de Jatene, porque o debate sobre o financiamento do
Sistema Único de Saúde (SUS) tornou-se um tabu duro de quebrar.
"Quem controla a mídia faz a população acreditar que a carga tributária é insuportável", disse o médico à Carta Maior.
"Mas, se você tirar a Previdência Social do orçamento, e a Previdência
é um dinheiro dos aposentados que o governo apenas administra, vai ver
que a nossa carga tributária está abaixo de 30%. É pouco para um país
como o Brasil."
O leitor confere
a seguir os principais trechos da breve entrevista exclusiva,
concedida por telefone na última segunda-feira (19), antes de os
deputados derrubarem a criação de um novo imposto para custear a saúde
pública no Brasil.
Como o senhor resumiria o livro: o que mudou na medicina em 40 anos?
Jatene: O
que mudou é realmente a tecnologia. Não só no Brasil, mas no mundo
inteiro. O diagnóstico à distância, por meio de exames, afastou o médico
dos pacientes, a conversa ficou abreviada.Mas a tecnologia também dever ter ajudado, não?
Jatene: Ajudou
muito, criou vacinas contra poliomelite, sarampo. Hoje, são doenças
que não existem mais. E também criou técnicas menos invasivas.O perfil epidemiológico do brasileiro mudou muito também? Isso tem impacto nos custos da saúde, que ficam maiores?
Jatene: Claro, esse é o grande problema.E O SUS, que está fazendo 21 anos, está preparado para essa nova situação?
Jatene: É
preciso que as pessoas entendam aritmética: é preciso ter recursos. Eu
estimo que o orçamento do SUS precise dobrar, mas não há nenhuma
possibilidade de dobrar. Então o senhor é a favor de um novo tributo?
Jatene: Quando
estive no governo, eu defendi a CPMF. Mas não estou mais. Apontar as
fontes de financiamento não é responsabilidade minha, mas do governo e
do Congresso.Com essa sua experiência de médico e gestor, o que o
senhor diria que conta mais para melhorar a saúde no Brasil: gestão ou
financiamento?
Jatene: As
duas coisas ao mesmo tempo são importantes. Já avançamos muito na
gestão, os grandes hospitais de São Paulo, por exemplo, buscam gestores
públicos. Mas faltam recursos.
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