Protestos desordenados: uma via dupla para Golpe
por Matheus L. Brinhosa
Venho comunicar alguns fatos extremamente alarmantes: existe hoje, em
arquitetura, salvo uma má interpretação dos fatos, uma dupla via para o
golpe que a direita quer dar no Brasil. Um golpe clássico e um golpe
branco, como duas caras da mesma moeda a ser usada de acordo com a
conjuntura.
A primeira via, clássica, que nos lembra
muito Jango, é a que todos sabem: estimular o patriotismo, o
anti-partidarismo, para o povo se voltar contra os partidos políticos em
geral e abraçarem um golpe militar em nome da moralização. Este, eu
creio que muitos já percebem que se encaminha. O golpe se encaminha
através de toda uma rede de direita, virtual e real, que já vinha
difamando a esquerda de maneira geral e o PT de maneira particular,
contando inclusive com o apoio de professores universitários.
Gostaria de dar uma ênfase no caráter virtual. O filme V de vingança, do
qual deriva a máscara de Guy Fawkes que os militantes usam hoje nas
ruas, foi feito por Hollywood. Sabemos da participação de Hollywood na
produção de vários filmes anticomunistas, principalmente durante a
guerra fria, que sempre retratavam os inimigos como de esquerda,
soviéticos, cubanos, chineses, vietnamitas, etc, etc. Inclusive o Red
Dawn, que foi produzido durante a guerra fria contra a URSS, hoje foi
reproduzido só que contra a Coréia do Norte. Além dos filmes, posso
dizer também que o mesmo tipo de alienação hoje se estende aos jogos
eletrônicos, pois neles temos que assassinar com freqüência inimigos
Russos, Venezuelanos, muitas vezes até os próprios líderes da esquerda
de algum país (como Fidel ou Chávez). Tudo para incutir barreiras e
preconceitos contra a esquerda.
Aqui muitos argumentariam que o PT
não é comunista, e de fato não é, porém não é o que diz a mídia. A mídia
tem vinculado o PT ao comunismo com freqüência, tantas vezes que seria
desnecessário citar. Jabor, Azevedo, Constantino, dentre tantos outros
que falam asneiras pela telinha e periódicos comerciais. Assim, ao
vincular o PT ao comunismo, lhe atingem transversalmente com todas as
criticas que se faz há décadas, sistematicamente, ao mesmo.
Em nome
dos anonymous muitas comunidades foram criadas na Internet, com a
aglutinação pretensamente revolucionária e numa rede internacional.
Estas pessoas foram fundamentais para alguns golpes que vimos nos
últimos anos, estimularam ativamente toda a primavera árabe (que até
hoje parece um mistério, pois que apenas foram interessantes à mídia na
medida que derrubavam governos antiestadunidenses, agora o mesmo povo na
rua não tem mais repercussão, a não ser na Síria, onde convém) . Aliás,
não é difícil encontrar acusações de militantes de todas as partes do
mundo acusando os anonymous de serem de extrema direita (pesquisem).
No Brasil os anonymous se popularizaram principalmente com a ajuda da
mídia, que volta e meia veiculava alguma informação deles, que
paralisavam algum site governamental (porém, nunca faziam nada de mais,
nem perto do que fez o Weekleaks, por exemplo). Inclusive chegaram a ser
propagandeados, durante uma suposta invasão de transmissão, pela turma
do humor politicamente incorreto do CQC. O CQC que sabemos ser composto
por membros de direita, desde seu líder Marcelo Tas (que chegou a
publicar um livro para enervar Lula, “nunca antes na história deste
país”) até o Gentili, que fez festivais especiais contra o PT. O mesmo
Gentili que emprega em seu programa a Banda Ultraje a Rigor, cujos
membros fazem declarações toscas, semelhantes as do Lobão (que deu até
palestras), contra a esquerda de maneira geral, inclusive colocando
panos quentes na ditadura.
Popularizou-se também, com a ajuda de
grandes corporações, uma literatura pseudo-intelectual, como Rand, e
outros teóricos do antiestatismo, que colocam no estado e no governo a
culpa por todos os males da humanidade (hoje você entra em qualquer
site, e lhe oferecem “A revolta de Atlas”, por exemplo, por um preço
inferior ao crepúsculo).
Iniciando o contexto pré-golpe, no
contexto global, pensando na latinoamérica como um todo, houve uma
resposta do Vaticano à morte de Chávez com a escolha do novo papa (uma
semana depois da morte daquele que seria o sustentáculo da esquerda
latinoamericana). A posse do Papa Chico, muito humilde e latinoamericano
devolveria a popularidade do catolicismo frente ao crescimento dos
evangélicos (que, em alguns países, são base de apoio da
centro-esquerda), com toda a mídia lhe elogiando e apoiando (frisando
sua origem franciscana). Porém, este Papa é bastante bipolar, pois: se
diz a favor dos pobres, mas é contra o governo Kirchner; se declara
contra livre mercado, mas também é contra a teologia da libertação; é
conhecido por assistencialismo social, mas também ajudou a ditadura
Argentina. Percebe-se claramente que a escolha de seu Chico é
estratégica, contra a guinada que a latinoamérica vem dando para a
esquerda.
A própria resistência dos EUA em reconhecer Maduro como
sucessor de Chávez é um indicativo da abertura de um contexto “novo”;
todo o empenho em eleger a marionete Caprilles, que chegou a
protagonizar protestos sangrentos contra as eleições, etc.
Temos
também o surgimento de alguns boatos que seriam de interesse da direita e
contribuiriam para configurar um contexto pré-golpe: o antigo boato da
ditadura gay-comunista, que derivou da época das cartilhas do MEC sobre o
assunto; como os médicos cubanos, que são divulgados como supostos
militantes comunistas que viriam fazer a revolução do Brasil; o boato de
que o Bolsa Família terminaria;o boato de que a PEC 33 e 37 (esta
segunda que eu, inclusive, sou contra) causariam uma ditadura comunista;
entre tantos outros que batem nesta mesma tecla.
No Brasil, além
da mídia, são os mesmos anonymous que articulam pela internet toda esta
guinada para a direita que a insatisfação popular deu nas manifestações
(tirando do passe livre a coordenação). Porém, quero relembrar o
passado. Lembro das primeiras reuniões do anonymous, que ocorriam num
link que era divulgado na Internet, que ficava hospedado durante apenas o
tempo necessário da reunião, e tinha o formato de um bate papo.
Qualquer um podia entrar, mas todas as vezes que entrei e expus a
necessidade de se analisar a estrutura social como um todo, levando em
consideração o sistema econômico, fui expulso do chat (aconteceu mais de
dez vezes). Eles simplesmente partem da máxima do filme, de que tem-se
que derrubar o governo, mas derrubar o governo sem modificar o sistema
econômico desagua em anarcocapitalismo (que só beneficiaria ainda mais
os detentores de capital).
E falando em anarcocapitalismo voltamos à
pseudoliteratura que vem sendo propagandeada, ao instituto Mises e suas
publicações alienígenas (que se popularizaram MUITO), aos vlogueiros
como Daniel Fraga, e tantos outros que pregam doutrinas derivadas de um
individualismo metodológico extremo.
Por último, e que eu vejo como
a via branca do golpe, mais ou menos como no Paraguai, há o Joaquim
Barbosa, transformado em herói desde o “mensalão”. Como que forjando um
plano B. Ele foi sistematicamente construído pela mídia, e hoje é tema
de entrevistas de quase uma hora na tv Globo, entrevistado por Lázaro
Ramos, onde abordam todos os temas populistas possíveis, desde origem
humilde, passando por trabalhos com direitos humanos e questão racial,
até a possibilidade de candidatura presidencial. Sobre a questão racial,
que realmente existe e é séria, ambos criam um clima emocionado durante
o papo (interpreto a escolha do entrevistador como estratégica e esta
ênfase como demagógica, ainda que se trate de um tema sério).
Fala-se do reconhecimento dele pelo povo, a identificação, e ele se diz
feliz com isso. Em dado momento ele fala que passou de uma linha
jurídica européia para uma linha jurídica de direita norte americana, e
que o que sabe fazer bem é justiça. Fala da transformação do judiciário
num órgão determinante do contexto político-social. Porém, depois admite
a impossibilidade, com uma certa impotência, de fazer justiça num país
como o nosso (banalizando a impunidade, mas se mostrando triste com
isso).
Quando perguntado sobre a possibilidade de candidatura, ele
tergiversa. Diz que não tem interesse, mas diz que pode vir a ser
convocado com uma expressão de “pelo interesse da pátria sim”. Depois
ele fala que nem teria dinheiro para fazer campanha, e que nunca se
envolveu com partidos e movimentos sociais. Perguntado sobre suas
bandeiras se presidente fosse, ele diz que criaria um “capitalismo de
verdade” aqui, “mas um capitalismo com feições sociais”. Depois fala o
óbvio sobre melhorar a educação, não desperdiçar dinheiro, favorável ao
voto distrital.
Relacionando todas as posturas dele ao movimento
que surge hoje, em parte coordenado pelos anonymous, eu diria que ele
“cai como uma luva”. Inclusive os anonymous publicam regularmente uma
imagem de que se derrubarmos a Dilma, Temer, Calheiros e Alves, ele
assumiria a presidência. Também se diz apolítico(como o “movimento”) nas
entrelinhas, com vontade de fazer justiça, ao mesmo tempo que da pistas
à direita que convém, sobre o “capitalismo de verdade” e o voto
distrital (bandeira do PSDB).
Vejo tudo isso como uma possível via
de golpe branco, que pode terminar com uma derrubada (como ocorreu com o
Lugo no Paraguai), inclusive os EUA trocaram o embaixador brasileiro
pela mesma pessoa que estava presente quando Lugo caiu lá.
Caso a
conjuntura não permita um golpe, por diversos motivos, certamente já
estão criando seu candidato para 2014. Estão criando um Obama, e todos
sabem da expectativa que Obama causou no mundo com seus discursos contra
a guerra, pela melhoria dos serviços públicos, etc. A diferença é que
nós já sabemos como se cria um Obama, e que no fim das contas nada foi
transformado nos EUA, inclusive as guerras continuam... Uma curiosidade:
advinhem que partido já o convidou para ser seu candidato? O PMB,
partido militar brasileiro (recém criado).
E agora, enquanto
escrevo isto, se você escreve "Joaquim Barbosa" no google, ele dá como
notícias mais relevantes duas pesquisas de intenção de voto da Folha e
do Terra, adivinhem com quem na dianteira?
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