Caro senhor Janio de Freitas, esse também é o meu sentimento. Milhares de cidadãos brasileiros morreram para termos a democracia e o Legislativo os desonra.
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O risco dos privilégios
Quando e como será, não há como saber. Mas que, em algum tempo, haverá
um grosso "chega!" à orgia financeira da Câmara e do Senado, como os
centenas de milhões gastos com outra reforma dos apartamentos funcionais
de deputados -disso não se tem o direito de duvidar.
O mundo todo já vive uma era de desmoralização dos privilégios. E, no caso, desmoralização é sinônimo de uma linha que começa pela percepção, passa à repulsa, em seguida à perda dos receios e da tolerância. Primavera árabe? É isso. Grande parte do terrorismo contra poderes dominantes -é isso.
O mundo todo já vive uma era de desmoralização dos privilégios. E, no caso, desmoralização é sinônimo de uma linha que começa pela percepção, passa à repulsa, em seguida à perda dos receios e da tolerância. Primavera árabe? É isso. Grande parte do terrorismo contra poderes dominantes -é isso.
Há três meses, a Câmara se concedeu o privilégio de ter atividade propriamente parlamentar, ou a sua aparência melhorada, em apenas um dia na semana. Criou assim o privilégio do privilégio; este, o que permitia aos deputados chegar a Brasília na terça, para a sessão da tarde, e cair fora na quinta.
Para uma noite em Brasília -vá lá, eventualmente duas- reformar os 463 apartamentos e modernizar-lhes os equipamentos domésticos é, para dizer o menos, desaforo com a população que paga impostos porque trabalha.
E exploração desumana dos que sofrem as consequências de falta de emprego, falta de moradia menos humilhante, falta de atendimento à saúde -e excesso de tolerância.
Seja de R$ 280 milhões ou de R$ 680 milhões, o montante do gasto não altera a dimensão da imoralidade. E não há um só partido que se tenha levantado contra. Retrato ainda melhor: não consta haver, entre os 513 deputados, um só que adotasse alguma atitude contra o mal uso do dinheiro público.
No Senado, tivemos senadores recebendo cerca de meio milhão para cobertura de pequenos gastos no correr do ano.
Quem não chegou a tanto, com as mínimas exceções de sempre, ficou em outros centenas de milhares. Um dos tantos privilégios que só os parlamentares do Brasil têm. E que um dia terão de acabar, como e quando não se sabe.
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