Posted: 21 Jul 2012 04:08 AM PDT
Começa
no próximo dia 2 de agosto, no Supremo Tribunal Federal, o julgamento
do chamado "mensalão do PT". Muito justo: afinal, o caso já se arrasta
desde de 2005 e nós estamos em 2012. Estava na hora.
Por
falar nisso, pergunto: e quando vai ser julgado o "mensalão tucano",
rebatizado pela grande imprensa de "mensalão mineiro", que é bem mais
antigo e vem se arrastando desde 1998?
Para
se ter notícias do "mensalão do PT", basta abrir qualquer jornal ou
revista, ligar o rádio ou a televisão, está tudo lá diariamente, contado
em caudalosas reportagens nos mínimos detalhes, comprovados ou não.
Já
o "mensalão tucano" foi simplesmente escondido pela mídia reunida no
Instituto Millenium, que não quer nem ouvir falar no assunto. Quem
quiser saber a quantas anda o processo que dormita no Supremo Tribunal
Federal precisa acessar aquilo que o tucano José Serra chama de "blogs
sujos".
Foi o que eu fiz ao entrar
no Google, que registra 508 mil citações sobre o "mensalão tucano", a
grande maioria publicada em blogs, enquanto o "mensalão do PT", embora
mais recente, já alcance 3.720.000 matérias publicadas.
Sob o título "Mensalão tucano e silêncio da mídia", o blog de Altamiro Borges tratou do asunto no último dia 10 de junho:
"Na
quarta-feira passada (6), finalmente o Supremo Tribunal Federal decidiu
incluir na pauta o debate sobre o "mensalão tucano", o esquema
utilizado patra alimentar a campanha pela reeleição do governador
Eduardo Azeredo (PSDB-MG) em 1998. A mídia, porém, não deu qualquer
destaque ao assunto. Algumas notinhas informaram apenas que o "mensalão
mineiro" também será julgado em breve _ a imprensa demotucana evita, por
razões óbvias, falar em mensalão tucano".
Quer
dizer, 14 anos depois, o STF decidiu colocar na pauta e vai começar a
debater o "mensalão tucano". Nem se pensa ainda em marcar uma data para o
julgamento, ao contrário do que aconteceu com o "mensalão do PT", que
virou um caso de vida ou morte para a mídia e precisa porque precisa ser
julgado _ e todo mundo condenado _ antes das eleições de outubro.
Altamiro explica:
"O caso é
bastante emblemático. Ele serve para comprovar a seletividade da chamada
grande imprensa. O escândalo surgiu bem antes das denúncias contra o
PT. A própria Procuradoria-Geral da República, ao encaminhar o caso ao
STF, em novembro de 2007, afirmou que o esquema foi "a origem e o
laboratório" do mensalão do PT. Ele teria sido armado pelo mesmo
publicitário Marcos Valério, que montou o famoso "valerioduto" para
financiar campanhas eleitorais com recursos públicos e doações de
empresas privadas".
Muitos anos
antes, em 2 de outubro de 2007, meu velho amigo Carlos Brickmann,
jornalista dos bons que pode ser acusado de tudo, menos de ser petista,
já tinha tocado no mesmo assunto em sua coluna "Circo da Notícia",
publicada no Observatório da Imprensa. Sob o título "Quando a polícia
abre o baú da imprensa", Brickmann escreveu:
"Que
o mensalão começou em Minas Gerais, até os fios de cabelo de Marcos
Valério sabiam. A primeira investida do esquema beneficiou o governador
tucano Eduardo Azeredo, candidato à reeleição (perdeu para Itamar
Franco). A imprensa até que deu a notícia, embora discretamente. E
esqueceu o assunto".
(...) "Pois é:
há asuntos que entram na moda, há assuntos que não há força humana
capaz de colocá-los na mídia. Tudo bem, vai ver que o mundo é assim. Mas
precisava transformar o mensalão tucano, na imprensa, em mensalão
mineiro?"
Dias atrás, o Blog do
Mello resgatou trecho de uma entrevista com Eduardo Azeredo publicada
pela "Folha" em 2007 na qual podem estar os motivos para esta
preferência da mídia tratar furiosamente do "mensalão do PT" e deixar
de lado o chamado "mensalão mineiro":
Folha _ A Polícia Federal diz que houve caixa dois na sua campanha...
Eduardo
Azeredo _ Tivemos problemas na prestação de contas da campanha, que não
era só minha, mas de partidos coligados, que envolvia outros cargos,
até mesmo de presidente da República.
Folha _ O dinheiro da sua campanha financiou a de FHC em Minas?
Azeredo
_ Sim, parte dos custos foram bancados pela minha campanha. Fernando
Henrique não foi a Minas na campanha por causa do Itamar Franco, que era
meu adversário, mas tinha comitês bancados pela minha campanha.
Fundador
do PSDB e presidente do partido quando o escândalo estourou, Eduardo
Azeredo conseguiu desta forma o apoio irrestrito dos tucanos de bico
grande que cuidaram de tirar o assunto da mídia.
A
acusação central de que o PT usou dinheiro público para comprar o voto
de parlamentares no Congresso foi derrubada pelo Tribunal de Contas da
União, como informou Marta Salomon, em nota publicada no portal
Estadão.com, às 22h15 desta quinta-feira:
"O
Tribunal de Contas da União considerou regular o contrato milionário da
empresa de publicidade DNA, de Marcos Valério Fernandes de Souza, com o
Banco do Brasil. O contrato é uma das bases da acusação da
Procuradoria-Geral da República contra o empresário mineiro no
julgamento do mensalão, marcado para agosto". Mais adiante, a matéria
lembra:
"De acordo com a
Procuradoria-Geral da República, contratos das agências de publicidade
de Marcos Valério com os orgãos públicos e estatais serviam de garantia e
fonte de recursos para financiar o esquema de pagamentos a políticos
aliados do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva".
Não
encontrei esta notícia na edição impressa da "Folha" de hoje, que
publica matéria sobre a defesa apresentada por Delúbio Soares,
tesoureiro do PT na época: "Delúbio dirá a STF que não houve compra de
deputado".
Se e quando o STF
finalmente marcar o julgamento do "mensalão tucano", vamos ver o que
Eduardo Azeredo terá a dizer e se a imprensa vai lembrar do que ele
falou nesta entrevista de 2007.
Podem até querer esquecer esta história, mas o Google lembra. Está tudo lá.
Blog Balaio do Kotscho
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