Postado em 16 mai 2014
“Ponha um cretino fundamental em cima da mesa e você manda ele falar,
ele dá um berro e, imediatamente, milhares de outros cretinos se
organizam, se arregimentam e se aglutinam”, disse Nelson Rodrigues. “O
cretino fundamental raspava a parede da sua humildade e na consciência
da sua inépcia. Mas, agora, conseguiram finalmente pela superioridade
numérica. Porque para um gênio, você tem um milhão de imbecis.”
João Vitor Almeida Lima, sonoplasta barbudo da rede Bandeirantes, é o criador da chamada TV Revolta,
que virou notícia pela quantidade de seguidores. Ele tem um canal no
YouTube e uma página no Facebook com quase 3 milhões de curtidas em que o
que faz é reverberar ódio patológico.
É um fenômeno de audiência. De cima de seu banquinho, Lima conseguiu
reunir uma multidão de gente como ele, supostamente indignada com “tudo
isso que está aí”. Aparece em vídeos babando na gravata, falando
palavrões, batendo na mesa, despejando sua intolerância mortal —
seletiva, claro. Há memes, ilustrações, frases, o que for, contra cotas
raciais, o funk, o Bolsa Família, a saúde, a Copa.
Deságua nos Grandes Satãs: o PT, Lula e Dilma. Não entra nada, absolutamente nada, sobre nenhum outro partido.
No meio da ignorância, das ofensas e das simplificações, aparecem
posts sobre cães abandonados, com ameaças aos donos que cometem essa
crueldade, e frases de auto-ajuda. Lima usa um alter ego, “João
Revolta”, para gravar seus depoimentos. João é, em sua descrição, um
“rapaz de 30 e poucos anos indignado com o sistema global”.
Detona os direitos humanos, os pobres, os preguiçosos e vagabundos
que dependem de programas sociais, enquanto defende Rachel Sheherazade,
idolatra Joaquim Barbosa, afaga a polícia. Recentemente, ele afirmou que
foi denunciado no YouTube e sua conta suspensa por alguns dias. Voltou
mais animado ainda, desta vez alegando que foi censurado pelo governo.
Governo comunista, claro.
A raiva online polui o ambiente da internet e se espalha de maneira
viral. A página do Guarujá Alerta é um exemplo das consequências desse
tipo de mentalidade num ambiente já envenenado. Qual o limite? O
Facebook, sempre pronto a retirar do ar fotos de Scarlett Johansson,
permite que abjeções como a TV Revolta continuem a mil.
Essa violência virtual é compartilhada por 3 milhões de cidadãos.
Christopher Wolf, diretor de uma entidade internacional especializada em
combater discursos de ódio na net, disse uma vez que o “Holocausto não
começou com câmaras de gás. Tudo se inicia com palavras e estereótipos”.
Sob esse ponto de vista, a TV Revolta está no caminho certo.
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