Com este escândalo que foi – e ainda está sendo – o vazamento de óleo
em um dos poços da Chevron-Texaco no Campo de Frade, ao largo do Rio de
Janeiro, trouxe, em toda a mídia brasileira, a discussão sobre a
capacidade e o preparo do país para a exploração de petróleo no subsolo
marinho.
Embora a discussão seja mais do que legítima, os objetivos com que ela é trazida, neste momento, não o são.
É como discutirmos a segurança nas estradas ao lado de um acidente
onde o automóvel que o provocou tinha os pneus carecas e andava a 250 km
por hora e ainda tinha tomado uns tragos.
A estrada poderia ser uma autobahn alemã e o desastre teria sido
igual. Sobretudo porque a responsável pelo acidente ainda tem muitas
explicações a dar sobre as razões de seu “erro de cálculo e, sobretudo,
porque ocultou-o o quanto pôde.
Como é que não tem níveis pelo menos razoáveis de segurança um país
que explora petróleo no mar há 35 anos, em milhares de poços perfurados
no leito marinho e só agora tem o seu primeiro acidente de alguma
expressão na plataforma continental?
É só olhar o mapa dos poços marítimos da ANP que está no post e você
verá que o exagero com que se aborda a questão é apenas um encobrimento
das verdadeiras intenções: bloquear a exploração da riquíssima fronteira
econômica representada pelas jazidas do pré-sal e favorecer sua entrega
aos poderosos interesses das grandes petroleiras estrangeiras.
É necessário eclipsar que este acidente – e já é confesso por parte
da Chevron-Texaco, embora a mídia o minimize – decorreu exclusivamente
da negligência de uma destas grandes petroleiras, interessada em gastar o
mínimo possível nas perfurações q que – suprema ironia – nem mesmo
tinha os sistemas de vigilância e inspeção submarino adequados, ao ponto
de tê-los de aceitar emprestados pela Petrobras.
E a Petrobras os tinha porque há 40 anos desenvolve tecnologia e
rotinas operacionais para exploração marítima. Primeiro com seu Centro
de Pesquisas, depois em programas específicos, a partir de 1986, quando
criou o Procap, seu Programa de Capacitação em Águas Profundas, com o
objetivo de perfurar em até um quilômetro abaixo da superfície marinha.
Depois vieram o Procap-2000 e o 3.000, com a necessidade de perfurar em
locais ainda mais profundos. Só este último teve um investimento
previsto em US$ 128 milhões,
A petroleira brasileira é reconhecida em todo o mundo como líder em
tecnologia de exploração a grandes profundidades. E isso, é claro, tem
um custo pesado que, muitas vezes, o investidor estrangeiro não quer
suportar.
Aí é fácil dizer que as multinacionais são mais rentáveis, gastando menos para garantir a segurança de suas instalações.
Este episódio mostrou que não apenas não ficamos em nada a dever às
gigantes do petróleo em matéria de segurança como, ao contrário, foi uma
delas que se mostrou incompetente e criminosamente irresponsável na
atividade mais arriscada da exploração, que é a perfuração e
completamento de um poço pioneiro.
Além das razões econômicas, a segurança provida pela Petrobras é
motivo mais que suficiente para a determinação de que só ela possa
operar a perfuração e a operação de poços no pré-sal, muito mais
profundos e complicados tecnologicamente que os de águas rasas e de
profundidade média.
A resposta sobre se o Brasil está preparado para a exploração de
águas ultra profundas é sim, ele está, através da Petrobras, que é uma
empresa que deve contas e satisfação perante o Governo e o país.
Mas será não se for através de empresas que ganham montanhas de
dinheiro, pagam um multa por poluir e, se quiserem, juntam as tralhas e
vão embora, com um rico saldo em petróleo e em dinheiro.
Por: Fernando Brito
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