Caso Lupi: a outra versão da história
17 de novembro de 2011
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A
jornalista Angela Rocha, mulher de Carlos Lupi, decidiu voltar a
escrever. E faz neste texto um desabafo que vale a pena ser lido. Ela
lembra uma questão básica: é fundamental, para o cidadão formar a sua
própria opinião, que as versões do fato sejam apresentadas. Isto é
básico no jornalismo. E isto não está acontecendo. (OM)
Você tem direito de ter a sua verdade.
Para isso você precisa conhecer todas as versões de uma história para
escolher a sua. A deles é fácil, é só continuar lendo a Veja, O Globo,
assistindo ao Jornal Nacional. A nossa vai precisar circular por essa
nova e democrática ferramenta que é a internet.
Meu
nome é Angela, sou esposa do Ministro do Trabalho e Emprego Carlos
Lupi. Sou jornalista e especialista em políticas públicas. Somos casados
há 30 anos, temos 3 filhos e um neto. Resolvi voltar ao texto depois de
tantos anos porque a causa é justa e o motivo é nobre. Mostrar a
milhares, dezenas ou a uma pessoa que seja como se monta um escândalo no
Brasil.
Vamos aos fatos: No dia 3 de novembro a
revista Veja envia a assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho
algumas perguntas genéricas sobre convênio, ONGS, repasses etc. Guarda
essa informação.
Na administração
pública existe uma coisa chamada pendência administrativa. O que é
isso? São processos que se avolumam em mesas a espera de soluções que
dependem de documentos, de comprovações de despesas, prestação de contas
etc. Todo órgão público, seja na esfera municipal, estadual ou federal,
tem dezenas ou centenas desses.
Como
é montado o circo? A revista pega duas pendências administrativas
dessas, junta com as respostas da assessoria de imprensa do ministério
dando a impressão de que são muito democráticos e que ouviram a outra
parte, o que não é verdade, e paralelamente a isso pegam o depoimento de
alguém que não tem nome ou sobrenome, mas diz que pagou propina a
alguém da assessoria do ministro.
No
dia seguinte toda a mídia nacional espalha e repercute a matéria em
todos os noticiários, revistas e jornais. Nada fica provado. O acusador
não tem que provar que pagou, mas você tem que provar que não recebeu.
Curioso isso, não? O próprio texto da matéria isentava Lupi de qualquer
responsabilidade. Ele sequer é citado pelo acusador. Mas a gente não lê
os textos, só os títulos e a interpretação, que vêm do estereótipo
“político é tudo safado mesmo”.
Dizem
que quando as coisas estão ruins podem piorar. E é verdade. Na
terça-feira Lupi se reúne na sede do PDT, seu partido político em
Brasília para uma coletiva com a imprensa. E é literalmente metralhado
não por perguntas, o que seria natural, mas por acusações. Nossa
imprensa julga, condena e manda para o pelotão de fuzilamento.
E
aí entra em cena a mais imprevisível das criaturas: o ser humano.
Enquanto alguns acuados recuam, paralisam, Lupi faz parte de uma minoria
que contra ataca. Explode, desafia. É indelicado com a Presidenta e com
a população em geral. E solta a frase bomba, manchete do dia seguinte:
“Só saio a bala”. O que as pessoas interpretaram como apego ao cargo era
a defesa do seu nome. Era um recado com endereço certo e cujos
destinatários voltaram com força total.
Era
a declaração de uma guerra que ainda não deixou mortos, mas já
contabiliza muitos feridos. Em casa, passado o momento de tensão, Lupi
percebe o erro, os exageros e na quinta-feira na Comissão de Justiça do
Congresso Nacional presta todos os esclarecimentos, apresenta os
documentos que provam que o Ministério do Trabalho já havia tomado
providências em relação às ONGs que estavam sendo denunciadas e
aproveita a oportunidade para admitir que passou do tom e pede desculpas
públicas a Presidenta e a população em geral.
A
essa altura, a acusação de corrupto já não tinha mais sustentação. Era
preciso montar outro escândalo e aí entra a gravação de uma resposta e
uma fotografia. A resposta é aquela que é repetida em todos os
telejornais. Onde o Lupi diz “não tenho nenhum tipo de relacionamento
com o Sr Adair. Fui apresentado a ele em alguns eventos públicos. Nunca
andei em aeronave do Sr Adair”.
Pegam
a frase e juntam a ela uma foto do Lupi descendo de uma aeronave com o
seu Adair por perto. Pronto. Um novo escândalo está montado. Lupi agora
não é mais corrupto, é mentiroso.
Em
algum momento, em algum desses telejornais você ouviu a pergunta que
foi feita ao Lupi e que originou aquela resposta? Com certeza não. Se
alguém pergunta se você conhece o Seu José, porteiro do seu prédio? Você
provavelmente responde: claro, conheço. Agora, se alguém pergunta: que
tipo de relacionamento você tem com o Seu José? O que você responde?
Nenhum, simplesmente conheço de vista.
Foi
essa a pergunta que não é mostrada: que tipo de relacionamento o Sr tem
com o Sr Adair? Uma pergunta bem capciosa. Enquanto isso, o próprio Sr
Adair garante que a aeronave não era dele, que ele não pagou pela
aeronave e que ele simplesmente indicou.
Quando
comecei na profissão como estagiária na Tribuna da Imprensa, ouvi de um
chefe de reportagem uma frase que nunca esqueci: “Enquanto você não
ouvir todos os envolvidos e tiver todas as versões do fato, a matéria
não sai. O leitor tem o direito de ler todas as versões de uma história e
escolher a dele. Imprensa não julga, informa. Quem julga é o leitor”.
Quero
deixar claro que isso não é um discurso para colocar o Lupi como
vítima. O Lupi não é vítima de nada. É um adulto plenamente consciente
do seu papel nessa história. Ele sabe que é simplesmente o alvo menor
que precisa ser abatido para que seja atingido um alvo maior. É briga de
cachorro grande.
Tentaram
atingir o seu nome como corrupto, mas não conseguiram. Agora é
mentiroso, mas também não estão conseguindo, e tenho até medo de
imaginar o que vem na sequência.
Para terminar queria deixar alguns recados:
Para
os amigos que nos acompanham ou simplesmente conhecidos que observam de
longe a maneira como vivemos e educamos os nossos filhos eu queria
dizer que podem continuar nos procurando para prestar solidariedade e
que serão bem recebidos. Aos que preferem esperar a poeira baixar ou não
tocar no assunto, também agradeço. E não fiquem constrangidos se em
algum momento acompanhando o noticiário tenham duvidado do Lupi. A coisa
é tão bem montada que até a gente começa a duvidar de nós mesmos. Quem
passou por tortura psicológica sabe o que é isso. É preciso ser muito
forte e coerente com as suas convicções para continuar nessa luta.
Para
os companheiros de partido, Senadores, Deputados, Vereadores,
lideranças, militantes que nos últimos 30 anos testemunharam o trabalho
incansável de um “maluco” que viajava o Brasil inteiro em fins de semana
e feriados, filiando gente nova, fazendo reuniões intermináveis,
celebrando e cumprindo acordos, respeitado até pelos adversários como um
homem de palavra, que manteve o PDT vivo e dentro do cenário nacional
como um dos mais importantes partidos políticos da atualidade. Eu peço
só uma coisa: justiça.
Aos
colegas jornalistas que estão fazendo o seu trabalho, aos que estão
aborrecidos com esse cara que parece arrogante e fica desafiando todo
mundo, aos que só seguem orientação da editoria sem questionamento, aos
que observam e questionam, não importa. A todos vocês eu queria deixar
um pensamento: reflexão. Qual é o nosso papel na sociedade?
E
a você Lupi, companheiro de uma vida, quero te dizer, como
representante desse pequeno nucleozinho que é a nossa família, que nós
estamos cansados, indignados e tristes, mas unidos como sempre
estivemos. Pode continuar lutando enquanto precisar, não para manter
cargo, pois isso é pequeno, mas para manter limpo o seu nome construído
em 30 anos de vida pública.
E
quando estiver muito cansado dessa guerra vai repousar no seu refúgio
que não é uma mansão em Angra dos Reis, nem uma fazenda em Goiás, sequer
uma casa em Búzios, e sim um pequeno sítio em Magé. Que corrupto é
esse? Que País é esse?
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