Por Renan Quintanilha
Foto de Francisco Proner |
Texto publicado na Revista Cult.
Por RENAN QUINTANILHA
O ex-presidente, por não se apresentar em Curitiba dentro do prazo de 24
horas estabelecido pelo juiz Sérgio Moro como se fosse uma concessão
generosa, recusou os termos “benevolentes” de sua rendição. Ao fazê-lo,
não violou lei alguma, pois é um dever da polícia cumprir um mandado de
prisão. E o povo, que fez um cordão em volta de Lula, apenas exerceu seu
direito de manifestação.
Com elegância e contundência política, Lula impôs os termos da sua
apresentação à polícia. Realizou uma missa em memória de sua companheira
de vida e foi almoçar com sua família antes de ir a Curitiba.
Ele preferiu usar suas últimas horas de liberdade para estar no meio do
povo e relembrar sua história de lutas ali onde tudo começou, no
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Milhares de pessoas estiveram ali,
por dois dias, manifestando a indignação e a solidariedade ao
ex-presidente.
Ele será preso, não há mais dúvidas. Mas preso por uma condenação
fajuta, em um processo eivado de ilegalidades. Lula foi mais uma das
vítimas da seletividade penal da justiça.
Acusado com base em convicções e não em provas, Lula teve conversas
privadas suas gravadas e ilegalmente divulgadas. Inclusive a então
presidenta da República teve sua conversa telefônica ilegalmente gravada
e divulgada. Houve show de Power Point do Ministério Público na
acusação.
Houve uma condução coercitiva ilegal e abusiva de alguém que sempre teve
endereço certo e que nunca se negou a colaborar com a Justiça. Houve
liminar de Gilmar Mendes impedindo Lula de ser ministro e que só valeu,
única e exclusivamente, contra ele. Houve um tempo recorde de rapidez
para a condenação em segundo grau e uma agilidade única para a expedição
do mandado de prisão.
Houve uma sessão do STF toda manipulada por Carmen Lúcia para impor um
entendimento de possibilidade de execução da pena após condenação na
segunda instância, mesmo sabendo-se que tal entendimento da Corte seria
revisto se a tese jurídica fosse pautada em abstrato.
Tudo isso feito para colocar Lula atrás das grades. Não pelos erros dos
seus governos – que são vários e que sempre fiz questão de apontar -,
mas pelos acertos que tanto incomodaram nossas elites. A verdade é que
estas nunca suportaram o mínimo de justiça social e dignidade que o povo
teve com os governos de Lula e Dilma.
Todos os presos são, em certo sentido, presos políticos. Lula, contudo, é
o maior preso político-eleitoral do país. Isso é vergonhoso.
Qualquer que seja a imagem da prisão que a grande mídia utilize nos
jornais e revistas, é a foto de Francisco Proner que ficará para a
história de um líder popular que foi impedido de concorrer às eleições e
injustamente preso. Mas Lula será cada vez mais ideia e inspiração pra
renovação das nossas lutas.
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