Via Justiceira de Esquerda ...
Lava Jato, trair a Pátria não é crime? Vender o país não é corrupção?Requião: “Responda, Moro. Responda, Dallagnoll. Responda, Carmem Lúcia. Responda, Raquel Dodge”
Um silêncio ensurdecedor foi “ouvido” nesta segunda-feira (6) após o
estridente discurso do senador Roberto Requião (PMDB-PR), que cobrou da
tribuna: “Responda, Moro. Responda, Dallagnoll. Responda, Carmem Lúcia.
Responda, Raquel Dodge.” Nenhuma palavra dos operadores da Lava Jato que
assistem passivamente a entrega do país e o desmantelamento do setor
público sem qualquer reação, denunciou o peemedebista sobre as
privatizações em curso.
Assista ao vídeo:
Abaixo, leia a íntegra do discurso de Requião:
Lava Jato, trair a Pátria não é crime? Vender o país não é corrupção?
Roberto Requião*
O juiz Sérgio Moro sabe; o procurador Deltan Dallagnol tem plena
ciência. Fui, neste plenário, o primeiro senador a apoiar e a conclamar o
apoio à Operação Lava Jato. Assim como fui o primeiro a fazer reparos
aos seus equívocos e excessos.
Mas, sobretudo, desde o início, apontei a falta de compromisso da
Operação, de seus principais operadores, com o país. Dizia que o
combate à corrupção descolado da realidade dos fatos da política e da
economia do país era inútil e enganoso.
E por que a Lava Jato se apartou, distanciou-se dos fatos da política e da economia do Brasil?
Porque a Lava Jato acabou presa, imobilizada por sua própria obsessão;
obsessão que toldou, empanou os olhos e a compreensão dos heróis da
operação ao ponto de eles não despertarem e nem reagirem à pilhagem
criminosa, desavergonhada do país.
Querem um exemplo assombroso, sinistro dessa fuga da realidade?
Nunca aconteceu na história do Brasil de um presidente ser denunciado
por corrupção durante o exercício do mandato. Não apenas ele. Todo o
entorno foi indigitado e denunciado. Mas nunca um presidente da
República desbaratou o patrimônio nacional de forma tão açodada,
irresponsável e suspeita, como essa Presidência denunciada por
corrupção.
Vejam. Só no último o leilão do petróleo, esse governo de denunciado
como corrupto, abriu mão de um trilhão de reais de receitas.
Um trilhão, Moro!
Um trilhão, Dallagnoll!
Um trilhão, Polícia Federal!
Um trilhão, PGR!
Um trilhão, Supremo, STJ, Tribunais Federais, Conselhos do Ministério Público e da Justiça.
Um trilhão, brava gente da OAB!
Um trilhão de isenções graciosamente cedidas às maiores e mais ricas
empresas do planeta Terra. Injustificadamente. Sem qualquer amparo em
dados econômicos, em projeções de investimentos, em retorno de
investimentos. Sem o apoio de estudos sérios, confiáveis.
Nada! Absolutamente nada!
Foi um a doação escandalosa. Uma negociata impudica.
Abrimos mão de dinheiro suficiente para cobrir todos os alegados
déficits orçamentários, todos os rombos nas tais contas públicas.
Abrimos mão do dinheiro essencial, vital para a previdência, a saúde, a
educação, a segurança, a habitação e o saneamento, as estradas,
ferrovias, aeroportos, portos e hidrovias, para os próximos anos.
Mas suas excelentíssimas excelências acima citadas não estão nem aí. Por que, entendem, não vem ao caso…
Na década de 80, quando as montadoras de automóveis, depois de saturados
os mercados do Ocidente desenvolvido, voltaram os olhos para o Sul do
mundo, os governantes da América Latina, da África, da Ásia entraram em
guerra para ver quem fazia mais concessões, quem dava mais vantagens
para “atrair” as fábricas de automóveis.
Lester Turow, um dos papas da globalização, vendo aquele espetáculo
deprimente de presidentes, governadores, prefeitos a oferecer até suas
progenitoras para atrair uma montadora de automóvel, censurou-os,
chamando-os de ignorantes por desperdiçarem o suado dinheiro dos
impostos de seus concidadãos para premiarem empresas biliardárias.
Turow dizia o seguinte: qualquer primeiroanista de economia, minimamente
dotado, que examinasse um mapa do mundo, veria que a alternativa para
as montadoras se expandirem e sobreviverem estava no Sul do Planeta
Terra. Logo, elas não precisavam de qualquer incentivo para se
instalarem na América Latina, Ásia ou África. Forçosamente viriam para
cá.
No entanto, governantes estúpidos, bocós, provincianos, além de corruptos e gananciosos deram às montadoras mundos e fundos.
Conto aqui uma experiência pessoal: eu era governador do Paraná e a
fábrica de colheitadeiras New Holland, do Grupo Fiat, pretendia
instalar-se no Brasil, que vivia à época o boom da produção de grãos.
A Fiat balançava entre se instalar no Paraná ou Minas Gerais. Recebo no
palácio um dirigente da fábrica italiana, que vai logo fazendo numerosas
exigências para montar a fábrica em meu estado. Queria tudo: isenções
de impostos, terreno, infraestrutura, berço especial no porto de
Paranaguá, e mais algumas benesses.
Como resposta, pedi ao meu chefe de gabinete uma ligação para o então
governador de Minas Gerais, o Hélio Garcia. Feito o contanto,
cumprimento o governador: “Parabéns, Hélio, você acaba de ganhar a
fábrica da New Holland”. Ele fica intrigado e me pergunta o que havia
acontecido.
Explico a ele que o Paraná não aceitava nenhuma das exigências da Fiat
para atrair a fábrica, e já que Minas aceitava, a fábrica iria para lá.
O diretor da Fiat ficou pasmo e se retirou. Dias depois, ele reaparece e comunica que a New Holland iria se instalar no Paraná.
Por que?
Pela obviedade dos fatos: o Paraná à época, era o maior produtor de
grãos do Brasil e, logo, o maior consumidor de colheitadeiras do país; a
fábrica ficaria a apenas cem quilômetros do porto de Paranaguá;
tínhamos mão-de-obra altamente especializada e assim por diante.
Enfim, o grande incentivo que o Paraná oferecia era o mercado.
O que me inspirou trucar a Fiat? O conselho de Lester Turow e o exemplo
de meu antecessor no governo, que atraiu a Renault, a Wolks e a Chrysler
a peso de ouro e às custas dos salários dos metalúrgicos paranaenses,
pois o governador de então chegou até mesmo negociar os vencimentos dos
operários, fixando-os a uma fração do que recebiam os trabalhadores
paulistas.
Mundos e fundos, e um retorno pífio.
Pois bem, voltemos aos dias de hoje, retornemos à história, que agora se reproduz como um pastelão.
O pré-sal, pelos custos de sua extração, coisa de sete dólares o barril, é moranguinho com nata,, uma mamata só!
A extração do óleo xisto, nos Estados Unidos, o shale oil , chegou a custar até 50 dólares o barril;
o petróleo extraído pelos canadenses das areias betuminosas sai por 20 a
30 dólares o barril; as petrolíferas, as mesmas que vieram aqui tomar o
nosso pré-sal, fecharam vários projetos de extração de petróleo no
Alasca porque os custos ultrapassavam os 40 dólares o barril.
Quer dizer: como no caso das montadoras, era natural, favas contadas que
as petrolíferas enxameassem, como abelhas no mel, o pré-sal. Com esse
custo, quem não seria atraído?
Por que então, imbecis, por que então, entreguistas de uma figa,
oferecer mais vantagens ainda que a já enorme, incomparável e
indisputável vantagem do custo da extração?
Mais um dado, senhoras e senhores da Lava Jato, atrizes e atores daquele
malfadado filme: vocês sabem quanto o governo arrecadou com o último
leilão? Arrecadou o correspondente a um centavo de real por litro
leiloado.
Um centavo, Moro!
Um centavo, Dallagnoll!
Um centavo, Carmem Lúcia!
Um centavo, Raquel Dodge!
Um centavo, ínclitos delegados da Policia Federal!
Esse governo de meliantes faz isso e vocês fazem cara de paisagem, viram o rosto para o outro lado.
Já sei, uma das razões para essa omissão indecente certamente é, foi e haverá de ser a opinião da mídia.
Com toda a mídia comercial, monopolizada por seis famílias, todas a
favor desse leilão rapinante, como os senhores e as senhoras iriam falar
qualquer coisa, não é?
Não pegava bem contrariar a imprensa amiga, não é, lavajatinos?
Renovo a pergunta: desbaratar o suado dinheiro que é esfolado dos
brasileiros via impostos e dar isenção às empresas mais ricas do planeta
é um ou não é corrupção?
Entregar o preciosíssimo pré-sal, o nosso passaporte para romper com o
subdesenvolvimento, é ou não é suprema, absoluta, imperdoável corrupção?
É ou não uma corrupção inominável reduzir o salário mínimo e isentar as petroleiras?
Será, juízes, procuradores, policiais federais, defensores públicos,
será que as senhoras e os senhores são tão limitados, tão fronteiriços,
tão pouco dotados de perspicácia e patriotismo ao ponto de engolirem
essa roubalheira toda sem piscar?
Bom, eu não acredito, como alguns chegam a acusar, que os senhores e as
senhoras são quintas-colunas, agentes estrangeiros, calabares, joaquins
silvérios ou, então, cabos anselmos.
Não, não acredito.
Não acredito, mas a passividade das senhoras e dos senhores diante da
destruição da soberania nacional, diante da submissão do Brasil às
transnacionais, diante da liquidação dos direitos trabalhistas e
sociais, diante da reintrodução da escravatura no país…. essa
passividade incomoda e desperta desconfianças, levanta suspeitas.
Pergunto, renovo a pergunta: como pode um país ser comandado por uma
quadrilha, clara e explicitamente uma quadrilha, e tudo continuar como
se nada estivesse acontecendo?
Responda, Moro.
Responda, Dallagnoll.
Responda, Carmem Lúcia.
Responda, Raquel Dodge.
Respondam, oh, ínclitos e severos ministros do Tribunal de Contas da União que ajudaram a derrubar uma presidente honesta.
Respondam, oh guardiões da moral, da ética, da honestidade, dos bons
costumes, da família, da propriedade e da civilização cristã ocidental.
Respondam porque denunciaram, mandaram prender, processaram e condenaram
tantos lobistas, corruptores de parlamentares e de dirigentes de
estatais, mas pouco se dão se, por exemplo, lobistas da Shell, da Exxon e
de outras petroleiras estrangeiras circulem pelo Congresso
obscenamente, a pressionar, a constranger parlamentares em defesa da
entrega do pré-sal,
e do desmantelamento indústria nacional do óleo e do gás?
Eu vi, senhoras e senhores. Eu vi com que liberdade e desfaçatez o
lobista da Shell, semanas atrás, buscava angarias votos para aprovar a
maldita, indecorosa MP franqueando todo o setor industrial nacional do
petróleo à predação das multinacionais.
Já sei, já sei…. isso não vem, ao caso.
Fico cá pensando o que esses rapazes e essas moças, brilhantíssimos
campeões de concursos públicos, fico pensando…..o que eles e elas
conhecem de economia, da história e dos impasses históricos do
desenvolvimento brasileiro?
Será que eles são tão tapados ao ponto de não saberem que sem energia,
sem indústria, sem mercado consumidor, sem sistema financeiro público,
para alavancar a economia, sem infraestrutura não há futuro para
qualquer país que seja? Esses são os ativos imprescindíveis para o
desenvolvimento, para a remissão do atraso, para o bem-estar social e
para a paz social.
Sem esses ativos, vamos nos escorar no quê? Na produção e exportação de commodities? Ora…..
Mas, os nossos bravos e bravas lavajatinos não consideram o desbaratamento dos ativos nacionais uma forma de corrupção.
Senhoras, senhores, estamos falando da venda subfaturada –ou melhor, da doação- do país todo! Todo!
E quem o vende?
Um governo atolado, completamente submerso na corrupção.
E para que vende?
Para comprar parlamentares e assim escapar de ser julgado por corrupção.
Depois de jogar o petróleo pela janela, preparando assim o terreno para a
nossa perpetuação no subdesenvolvimento, o governo aproveita a
distração de um feriado prolongado e coloca em hasta pública o Banco do
Brasil, a Caixa Econômica, a Eletrobrás, a Petrobrás e que mais seja de
estatal.
Ladrões de dinheiro público vendendo o patrimônio público.
Pode isso, Moro?
Pode isso, Dallagnoll?
Pode isso, Carmem Lúcia?
Pode isso, Raquel Dodge?
Ou devo perguntar para o Arnaldo?
À véspera do leilão do pré-sal, semana passada, tive a esperança de que
algum juiz intrépido ou algum procurador audacioso, iluminados pelos
feéricos, espetaculosos exemplos da Lava Jato, impedissem esse supremo
ato de corrupção praticado por um governo corrupto.
Mas, como isso não vinha ao caso, nada tinha com os pedalinhos, o
tríplex, as palestras, o aluguel do apartamento, nenhum juiz, nenhum
procurador, nenhum delegado da polícia federal, e nem aquele rapaz do
TCU, tão rigoroso com a presidente Dilma, ninguém enfim, se lixou para o
esbulho.
Ah, sim, não estava também no power point….
É com desencanto e o mais profundo desânimo que pergunto: por que Deus está sendo tão duro assim com o Brasil.
*Roberto Requião é senador da República no segundo mandato. Foi
governador de estado por 3 mandatos, 12 anos, prefeito de Curitiba,
secretário de estado, deputado, industrial, agricultor, oficial do
exército brasileiro e advogado de movimento sociais. É graduado em
direito e jornalismo com pós graduação em urbanismo e comunicação.
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