Jorge André Irion Jobim | ||||
Por Jorge André Irion Jobim -“SÉRGIO MORO E DALLAGNOL AINDA VESTEM FRALDAS NA
CIÊNCIA DO DIREITO”. Por Marcos César Danhoni Neves* Sou professor titular de Física numa universidade pública (Universidade Estadual de Maringá-UEM) desde 2001 e docente e pesquisador há quase 30 anos. Sou especialista em história e epistemologia da ciência, educação científica, além de processos de ensino-aprendizagem e análise de discursos. Orientei mais de 250 alunos de graduação, especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado, além de professores in-service. Conto tudo isso, como preâmbulo, não para me gabar, mas para salientar que li milhares de páginas de alunos brilhantes, medianos e regulares em suas argumentações de pesquisa. Dito isso, passo a analisar duas pessoas que compõem o imaginário mítico-heróico de nossa contemporaneidade nacional: Sérgio Moro e Deltan Dallagnol. Em relação ao primeiro, Moro, trabalhei ativamente para impedir, junto com um coletivo de outros colegas, para que não recebesse o título de Doutor honoris causa pela Universidade Estadual de Maringá. Moro tem um currículo péssimo: uma página no sistema Lattes (do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico ligado ao extinto MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia). Lista somente 4 livros e 5 artigos publicados. Mesmo sua formação acadêmica é estranha: mestrado e doutorado obtidos em três anos. Isso precisaria ser investigado, pois a formação mínima regulada pela CAPES-MEC (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Ministério da Educação) é de 24 meses para Mestrado e 48 meses para o Doutorado. Significa que “algo” ocorreu nessa formação apressada.. Que “algo” é esse, é necessário apurar com rigor jurídico. Além de analisar a vida acadêmica de Moro para impedir que ele recebesse um título que não merecia, analisei também um trabalho seminal que ele traduziu: “O uso de um criminoso como testemunha: um problema especial”, de Stephen S. Trott. Mostrei que Moro não entendeu nada do que traduziu sobre delação premiada e não seguiu nada das cautelas apresentadas pelos casos daquele artigo. Se seguirmos o texto de mais de 200 páginas da condenação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e guiando-me pela minha experiência em pesquisa qualitativa, análise de discurso e fenomenologia, notamos claramente que parte significativa do texto consiste em Moro tentar apagar suas digitais, sem sucesso, ao desdizer que agiu com imparcialidade. Nestas páginas robustas lemos uma declaração clara de culpa: Moro considera a parte da defesa de Lula em menos de 1% do texto total! E dos mais de 900 parágrafos, somente nos cinco finais alinhava sua denúncia e sentença sem provas baseada num misto frankensteiniano de “explanacionismo” (uma “doutrina” jurídica personalíssima criada por Deltan Dallagnol) e “teoria do domínio do fato”, ou seja, sentença exarada sobre ilações, somente. Aqui uso a minha experiência como professor e pesquisador: quando um estudante escreve um texto (TCC, monografia, dissertação, tese, capítulo de livro, livro, ensaio, artigo), considero o trabalho muito bom quando a conclusão é robusta e costura de forma clara e argumentativa as premissas, a metodologia e as limitações do modelo adotado de investigação. Dissertações e teses que finalizam com duas ou três páginas demonstram uma análise rápida, superficial e incompetente. Estas reprovo imediatamente. Não quero investigadores apressados, superficiais! Se Moro fosse meu aluno, eu o teria reprovado com esta sentença ridícula e persecutória. Mal disfarçou sua pressa em liquidar sua vítima. Em relação a outro personagem, o também vendedor de palestras Deltan Dallagnol, há muito o que se dizer. Angariou um título de doutor honoris causanuma faculdade privada cujo dono está sendo processado por falcatruas que o MP deveria investigar. O promotor Dallagnol não seguiu uma única oitiva das testemunhas de defesa e acusação de Lula, além daquela do próprio ex-presidente. Eu trabalho em pós-graduações stricto sensu de duas universidades públicas: uma em Maringá e outra em Ponta Grossa. Graças a isso fui contactado por meio de um coletivo para averiguar a dúvida sobre a compra por parte de Dallagnol de apartamentos do Programa Minha Casa Minha Vida em condomínio próximo à UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa). Visitei os imóveis guiado por uma corretora e me dirigi ao Cartório de Registro de Imóveis da cidade. Após algumas semanas, a resposta: os dois apartamentos modestíssimos, destinados a gente pobre, tinham sido adquiridos pelo Promotor e estavam à venda com um lucro líquido em menos de um ano de aquisição de 135 mil reais. Reuni o material e disponibilizei para a imprensa livre (aqui a matéria do DCM). O promotor teve que admitir que comprou os apartamentos para ganhar dinheiro na especulação imobiliária, sem resquícios de culpa ou de valores morais em ter adquirido imóveis destinados a famílias com renda de até R$ 6.500,00 (Deltan chegou a ganhar mais de R$ 80.000,00 de salários – além do teto constitucional, de cerca de R$ 35.000,00; e mais de R$ 220.000,00 em suas suspeitosas palestras). Bom, analisando os discursos de Dallagnol, notamos claramente a carga de preconceito que o fez construir uma “doutrina” de nome exótico, o “explanacionismo”, para obter a condenação de um acusado sem prova de crime. Chega a usar de forma cosmética uma teoria de probabilidade – o bayesianismo – que ele nem sequer conhece ao defender a relativização do conceito de prova: vale seu auto-de-fé a qualquer materialidade de prova, corrompendo os princípios basilares do Direito. Como meu aluno, ou candidato a uma banca de defesa, eu também o teria reprovado: apressado, superficial e sem argumentação lógica. Resumindo: Dallagnol e Moro ainda vestem fraldas na ciência do Direito. São guiados por preconceitos e pela cegueira da política sobre o Jurídico. Quando tornei-me professor titular aos 38 anos, eu o fiz baseado numa obra maturada em dezenas e dezenas de artigos, livros, capítulos, orientações de estudantes e coordenações de projetos de pesquisa. Infelizmente, estes dois personagens de nossa República contemporânea seriam reprovados em qualquer universidade séria por apresentar teses tão esdrúxulas, pouco argumentativas e vazias de provas. Mas a “Justiça” brasileira está arquitetada sobre o princípio da incompetência, da vilania e do desprezo à Democracia. Neste contexto, Moro e Dallagnol se consagram como “heróis” de papel que ficariam muito bem sob a custódia de um Mussolini ou de Roland Freisler, que era o presidente do Volksgerichtshof, o Tribunal Popular da Alemanha nazista. Estamos sob o domínio do medo e do neo-integralismo brasileiro. *Marcos César Danhoni Neves é professor titular da Universidade Estadual de Maringá e autor do livro “Do Infinito, do Mínimo e da Inquisição em Giordano Bruno”, entre outras obras. |
sexta-feira, 21 de julho de 2017
INN - DALLAGNOL E MORO AINDA VESTEM FRALDAS NA CIÊNCIA DO DIREITO
quarta-feira, 19 de julho de 2017
terça-feira, 18 de julho de 2017
INN - Via O Pulha - Vale Pensar - ARTIGO DE LULA NA FOLHA É IRRESPONDÍVEL


Do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, hoje, na Folha:
Em mais de 40 anos de atuação pública, minha vida pessoal foi
permanentemente vasculhada -pelos órgãos de segurança, pelos adversários
políticos, pela imprensa. Por lutar pela liberdade de organização dos
trabalhadores, cheguei a ser preso, condenado como subversivo pela
infame Lei de Segurança Nacional da ditadura. Mas jamais encontraram um
ato desonesto de minha parte.
Sei o que fiz antes, durante e depois de ter sido presidente. Nunca
fiz nada ilegal, nada que pudesse manchar a minha história. Governei o
Brasil com seriedade e dedicação, porque sabia que um trabalhador não
podia falhar na Presidência. As falsas acusações que me lançaram não
visavam exatamente a minha pessoa, mas o projeto político que sempre
representei: de um Brasil mais justo, com oportunidades para todos.
Às vésperas de completar 71 anos, vejo meu nome no centro de uma
verdadeira caçada judicial. Devassaram minhas contas pessoais, as de
minha esposa e de meus filhos; grampearam meus telefonemas e divulgaram o
conteúdo; invadiram minha casa e conduziram-me à força para depor, sem
motivo razoável e sem base legal. Estão à procura de um crime, para me
acusar, mas não encontraram e nem vão encontrar.
Desde que essa caçada começou, na campanha presidencial de 2014,
percorro os caminhos da Justiça sem abrir mão de minha agenda. Continuo
viajando pelo país, ao encontro dos sindicatos, dos movimentos sociais,
dos partidos, para debater e defender o projeto de transformação do
Brasil. Não parei para me lamentar e nem desisti da luta por igualdade e
justiça social.
Nestes encontros renovo minha fé no povo brasileiro e no futuro do
país. Constato que está viva na memória de nossa gente cada conquista
alcançada nos governos do PT: o Bolsa Família, o Luz Para Todos, o Minha
Casa, Minha Vida, o novo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar), o Programa de Aquisição de Alimentos, a
valorização dos salários -em conjunto, proporcionaram a maior ascensão
social de todos os tempos.
Nossa gente não esquecerá dos milhões de jovens pobres e negros que
tiveram acesso ao ensino superior. Vai resistir aos retrocessos porque o
Brasil quer mais, e não menos direitos.
Não posso me calar, porém, diante dos abusos cometidos por agentes do
Estado que usam a lei como instrumento de perseguição política. Basta
observar a reta final das eleições municipais para constatar a caçada ao
PT: a aceitação de uma denúncia contra mim, cinco dias depois de
apresentada, e a prisão de dois ex-ministros de meu governo foram
episódios espetaculosos que certamente interferiram no resultado do
pleito.
Jamais pratiquei, autorizei ou me beneficiei de atos ilícitos na
Petrobras ou em qualquer outro setor do governo. Desde a campanha
eleitoral de 2014, trabalha-se a narrativa de ser o PT não mais partido,
mas uma “organização criminosa”, e eu o chefe dessa organização. Essa
ideia foi martelada sem descanso por manchetes, capas de revista, rádio e
televisão. Precisa ser provada à força, já que “não há fatos, mas
convicções”.
Não descarto que meus acusadores acreditem nessa tese maliciosa,
talvez julgando os demais por seu próprio código moral. Mas salta aos
olhos até mesmo a desproporção entre os bilionários desvios investigados
e o que apontam como suposto butim do “chefe”, evidenciando a falácia
do enredo.
Percebo, também, uma perigosa ignorância de agentes da lei quanto ao
funcionamento do governo e das instituições. Cheguei a essa conclusão
nos depoimentos que prestei a delegados e promotores que não sabiam como
funciona um governo de coalizão, como tramita uma medida provisória,
como se procede numa licitação, como se dá a análise e aprovação,
colegiada e técnica, de financiamentos em um banco público, como o
BNDES.
De resto, nesses depoimentos, nada se perguntou de objetivo sobre as
hipóteses da acusação. Tenho mesmo a impressão de que não passaram de
ritos burocráticos vazios, para cumprir etapas e atender às formalidades
do processo. Definitivamente, não serviram ao exercício concreto do
direito de defesa.
Passados dois anos de operações, sempre vazadas com estardalhaço, não
conseguiram encontrar nada capaz de vincular meu nome aos desvios
investigados. Nenhum centavo não declarado em minhas contas, nenhuma
empresa de fachada, nenhuma conta secreta.
Há 20 anos moro no mesmo apartamento em São Bernardo. Entre as
dezenas de réus delatores, nenhum disse que tratou de algo ilegal ou
desonesto comigo, a despeito da insistência dos agentes públicos para
que o façam, até mesmo como condição para obter benefícios.
A leviandade, a desproporção e a falta de base legal das denúncias
surpreendem e causam indignação, bem como a sofreguidão com que são
processadas em juízo. Não mais se importam com fatos, provas, normas do
processo. Denunciam e processam por mera convicção -é grave que as
instâncias superiores e os órgãos de controle funcional não tomem
providências contra os abusos.
Acusam-me, por exemplo, de ter ganho ilicitamente um apartamento que
nunca me pertenceu -e não pertenceu pela simples razão de que não quis
comprá-lo quando me foi oferecida a oportunidade, nem mesmo depois das
reformas que, obviamente, seriam acrescentadas ao preço. Como é
impossível demonstrar que a propriedade seria minha, pois nunca foi,
acusam-me então de ocultá-la, num enredo surreal.
Acusam-me de corrupção por ter proferido palestras para empresas
investigadas na Operação Lava Jato. Como posso ser acusado de corrupção,
se não sou mais agente público desde 2011, quando comecei a dar
palestras? E que relação pode haver entre os desvios da Petrobras e as
apresentações, todas documentadas, que fiz para 42 empresas e
organizações de diversos setores, não apenas as cinco investigadas,
cobrando preço fixo e recolhendo impostos?
Meus acusadores sabem que não roubei, não fui corrompido nem tentei
obstruir a Justiça, mas não podem admitir. Não podem recuar depois do
massacre que promoveram na mídia. Tornaram-se prisioneiros das mentiras
que criaram, na maioria das vezes a partir de reportagens facciosas e
mal apuradas. Estão condenados a condenar e devem avaliar que, se não me
prenderem, serão eles os desmoralizados perante a opinião pública.
Tento compreender esta caçada como parte da disputa política, muito
embora seja um método repugnante de luta. Não é o Lula que pretendem
condenar: é o projeto político que represento junto com milhões de
brasileiros. Na tentativa de destruir uma corrente de pensamento, estão
destruindo os fundamentos da democracia no Brasil.
É necessário frisar que nós, do PT, sempre apoiamos a investigação, o
julgamento e a punição de quem desvia dinheiro do povo. Não é uma
afirmação retórica: nós combatemos a corrupção na prática.
Ninguém atuou tanto para criar mecanismos de transparência e controle
de verbas públicas, para fortalecer a Polícia Federal, a Receita e o
Ministério Público, para aprovar no Congresso leis mais eficazes contra a
corrupção e o crime organizado. Isso é reconhecido até mesmo pelos
procuradores que nos acusam.
Tenho a consciência tranquila e o reconhecimento do povo. Confio que
cedo ou tarde a Justiça e a verdade prevalecerão, nem que seja nos
livros de história. O que me preocupa, e a todos os democratas, são as
contínuas violações ao Estado de Direito. É a sombra do estado de
exceção que vem se erguendo sobre o país.
Lula, em artigo na Folha: a sombra do estado de exceção se ergue sobre nós.
sexta-feira, 14 de julho de 2017
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